Filha do pensamento
Essa madrugada
Que entope de desejo minhas veias

Deságuo instantâneos
Cada instante desmoronam
desalentos

Essas estradas e caminhos
Nascendo atrás de nuvens
Madrugada e pensamento

Atrasada e desatenta
Hoje tarda a hora, o sono
Desses favos de romance

Madrugada e pensamento
Me consomem de inércia
Onde o ócio obrigatório
Preenche meus brancos de página.
Segredo de pequeno
Escondido
Sem crer nem ler

Pagina em branco
E a necessidade de palavras habitando a epítome dos dias,
Metáfora de momento
Espera e devaneio
Assim faz-se o tudo em vão
Vão como desapego
Desapego como vontade
De novo o novo
Volvendo-se
Dançando na linha tênue
Agora sendo
Intuição

E desejo salta de assalto ao alto
Do monumento
eu que me perco em meus acordes silenciosos
que mais caminham entre pausas que canções
se escondem em meus olhos desatinos
que mais parecem distrações...
enquanto meu desejo descansa num cômodo
e como transcende num vôo um pássaro,
o mar que tem a onda.
o amor é ilusão de sim e não
descansa seus olhos em meu leito
que de instantes se faz meu juízo
e assim prefiro o meio que me cabe
por ser sentido em vez de súbito
que estranha
o ciclone
dos dias
que passam

ATÔNITO

Calo o espaço entre a palavra e o sentido,
e ao comer o som,
me entrego ao sonífero, o ouvido.
O gosto dormente do sono,
de fono ao som afônico,
fez-se sem cor, estriônico,
cor de atômico, acorde mono...
Dono de om,
mono de som,
atônico tom.

ODE AO SOL

O Sol, com toda sua
tridimensionalidade,
se esconde entre a cidade,
num shy sunshine.
Embriagado de cor, calor e poesia,
se põe, poente em harmonia,
como a cadente tardinha,
que se faz tardia.
Tem personalidade assimétrica,
lírica, épica,
e sua autêntica meta, se faz reta
em ângulos ,nas direções:
dos planetas, do infinito
e outras constelações.
Quando menos entendo,
Mais procuro o medo que trago em meus braços...
Como se em plena ausência dos encontros,
Trouxesse
Junto aos meus olhos
O amor de todos os mortais.
Enquanto necessito de silêncio...
Alguns gostam de gastar palavras...
Rasgando dinheiro de sílabas...
E se fala, fala, fala...
E eu me conservando em espírito no silêncio...
Pensando silêncio
Ouvindo ruído
Gastando saliva de pensamento
Em busca de um solilóquio
Qualquer que seja o instante
Andando por frases
Estou boquiaberta no aguardo do cessar de coisas
Mal estranho minha vontade de falar
Desatino em desconselhos
Por onde me aguardo de estancar
A mente que me polui de palavras.
E mesmo,
Rio que sou
Desaguando poesia
Morro de amor
Por cada letra.
Hoje deitei meus pensamentos.
Eles quase esperavam ver meu pôr dos olhos.
Esperavam, esperavam....e nada de pôr dos olhos.
Aflitos, rodeavam minhas obsessões.
Uma obsessão em detalhe sobressaía-se toda.
E agora o que era de pensamento estava espreitando a maior de todas as obsessões.
Foi quando então, uma por uma, foram juntando-se certas paranóias esvoaçantes, formando um enorme véu. Bonito, lindo e insuportável.
Tudo que era segundo apertou suas pálpebras de onde surgiam proparoxítonas a dançar sobre minhas têmporas. Lânguidas, sôfregas, insípidas....
...
...
Um imenso vão recolhe os restos.
...
O pôr dos olhos se aproxima...e anoitece meu pensamento.
E quando anoitece, as luzes de imagens preenchem a paisagem negra dos olhos fechados.