À Descartes

Quando jaz no peito,
o pranto de ser condenado,
à sempre estar
dentro de um mundo
ao qual não pertence.
Quando bate nos olhos a ignorância,
é porque sabe
que encontra
à sua frente
um pouco do outro,
aquele que difere.
Eu sei,
hoje,
que
de tantos no mundo,
não posso,
não comporto,
a verdade,
a certeza.
Mas me sinto alheia,
longe, me sinto
quase
inabitante
e
inabitável.
Me sinto inóspita
dentro e fora
de minha opinião.
Hoje, me falta
amanhã.
Sou o que penso,
mas meu pensamento
anda sem casa,
sem porto,
tenho andado assim:
no limite entre
o quase e a dúvida.

Um comentário:

Eduardo Fróis disse...

Aiaii...
como o tempo passa de forma mas saborasa quando é regado por suas palavras,a dama Joana Flor!
Que o diga nosso mestre Vinícius de Moraes...
"Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno(...)E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade(...)E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta,
e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca...

Joana a flor que desabrochou em mim!